NECROBUTCHER
(GRIND-NOISE/SC)
Lembro-me
que certa vez, mostrei a primeira demo-tape para uns amigos, e os mesmos
ficaram horrorizados com o som que é sinônimo de pioneirismo e radicalismo, o
Necrobutcher com apenas duas demo-tapes lançadas, conseguiu na época um patamar
bastante invejável, que é o do respeito e admiração de várias bandas. E o C.
Kranium (urros) fala como a banda chegou a ser um "Pai" de todas as
inimagináveis sujeiras - sem aspas, pois o som era sujo mesmo!
Alessandro E. N.
Cursed Excruciation
zine #03, set. 2007
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Kranium, primeiramente gostaria de saber o que motivou você a criar na época
uma das bandas mais sujas e radicais do país? Como foi o início, principais
influências.
KRANIUM - Em primeiro lugar, saudações pra
galera toda que lê este fanzine e principalmente pra você, Alessandro. Bem, na
época éramos bastante jovens, mas nossa motivação maior foi colocar pra fora
toda uma raiva acumulada em forma de música, uma revolta que perpassava todos
os níveis da nossa vida, pois éramos daquele jeito 24 horas por dia, em casa,
na escola, com os amigos, com a família, o tempo todo mesmo. Quanto à sujeira
do som, isso é mais difícil de explicar, porque nem a gente sabe como fizemos
um som tão pancada numa época que aquele tipo de barulho ainda engatinhava no
Brasil. Quer dizer, a gente já tinha algumas das maiores bandas de Death Metal
do mundo aqui, como o Sarcófago, por exemplo, ou o Necrófago, de Passos, bem
como todas as bandas de BH, além do pessoal de SP e RJ e mais algumas
espalhadas pelo interior, mas o nosso som era bem agressivo mesmo, talvez por
termos tido influência desde o início de bandas HC, pois gostávamos muito de
Terveet Kädet, Rattus, bem como de bandas brasileiras que eram bem toscas, como
o Exterminator, de BH. Acho que isso levou a gente pra longe daquele coisa mais
técnica que estava começando a predominar, depois que o Sepultura lançou o
"Schizophrenia". Acho importante também ressaltar que já tinha no Brasil
um pessoal fazendo Noisecore muito antes, no Brigada do Ódio, que talvez não
seja sempre lembrado por estar mais ligado aos punks, e não à galera do metal,
como o Necrobutcher. Sobre o início, nem é preciso dizer que foi bem difícil,
pois se hoje ainda é complicado manter uma banda, imagine há quase 20 anos
atrás, em 1988! Aparelhagem péssima, falta de compreensão dos vizinhos, falta
de grana, dificuldade pra conseguir fazer uma gravação decente, pra mandar um
fita pra alguém...tá louco!
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O Necrobutcher é bem difícil de ser caracterizado, uns dizem ser: Black, Death,
Grind, Noise e por ai vai... O som realmente se caracteriza por um Grind/Noise,
mas penso que pela postura está mais pra Black não acha? Como definiria o
Necrobutcher? Ou acha esses tipos de rótulos desnecessários?
KRANIUM - Hoje em dia eu certamente considero
todos esses rótulos desnecessários, pois música é algo que vai muito além
dessas limitações, que em alguns casos podem empobrecer o som que uma mente
criativa pode produzir sem esse tipo de interferência. Quando montamos a banda,
as referências principais para o nosso som eram Sarcófago, Dissector (banda de
Pelotas/RS, também importante na cena extrema da época), Genocídio, Bathory,
além de Exterminator, Hellhouse e Occult, sendo essas duas últimas bandas
desconhecidas e misteriosas pra gente até hoje. Do Hellhouse certamente veio
minha principal influência pros vocais, já que o vocalista dessa banda parecia
um cachorro hidrofóbico, heheheheh! O Occult fazia um barulho tremendo, composto
quase unicamente por bateria e gritos de um doido sabe-se lá de onde. Logo
depois, conhecemos o Napalm Death, por meio do "Scum", disco que foi
muito influente na nossa concepção musical por volta de 1989, bem como bandas
como Agathocles, Sore Throat, Genital Deformities, Fear of God, Crawl Noise,
Carcass, 7MON e Extreme Noise Terror. Assim, o som foi cada vez mais assumindo
uma tendência Grind/Noise que já nos parecia natural desde os primeiros
ensaios, porque, como dizíamos no nosso primeiro release, queríamos que nosso
som soasse como um liquidificador cheio de pedras e posers ligado, rsrsrsrs.
Quanto à postura Black, nunca tivemos nenhuma ligação filosófica com o Black
Metal, embora eu sempre tenha gostado muito da música. Acho que a correlação
feita por muita gente tem a ver com a tendência da época, que era de tirar
fotos em cemitérios e fazer pesadas críticas ao cristianismo, mas nunca fomos
satanistas ou cultuamos qualquer forma de "cristianismo invertido",
pra usar a expressão que um dos membros d o Averse Sefira usou numa entrevista.
Pra resumir a questão, acho que o Necrobutcher fazia um som pancada mesmo,
metal/HC extremo e ponto final.
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As duas DT's oficiais até hoje são xerocadas e espalhadas ai por mundo a fora,
eu me considero privilegiado por ter as 2 Dt's. Há alguma chance de lançar esse
material em CD ou quem sabe um Picture LP? Analisaria propostas?
KRANIUM - Houve um amigo nosso, o Clay, o
qual você conhece também, que trouxe uma proposta de um selo americano
especializado em regravar essas bandas old-school, mas houve algum problema e a
coisa não rolou. Se houvesse a possibilidade, eu aceitaria na boa, embora eu
tivesse que conversar com os outros ex-membros também. Quanto ao fato de elas
terem se espalhado, ainda fico de cara com isso, pois nós nem tínhamos ideia de
que toda essa história fosse parar tão longe. Até comunidade no Orkut um
camarada criou e esses dias consegui baixar a demo na internet...coisa de
louco, (risos).
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A música "No Thrash" da 1ª DT é uma dura crítica ao Thrash Metal que
na época era dito como "moda" por alguns. O que achas das bandas
daquela época que tocavam Death Metal e com o tempo acabaram rumando pro
Thrash? Você ainda tem preconceito contra o estilo?
KRANIUM - Bem, você tem toda razão quando
fala que era uma dura crítica ao Thrash metal NA ÉPOCA, pois assim como outras
posições e ideias que se pode ver nas demos, fotos e entrevistas, era algo
contextualizado, já que o Thrash realmente virou moda naquele momento e todo
mundo queria fazer um "som rápido pesado e trabalhado", inspirados
numa ideia clássica de "evolução musical" e impulsionados, de certa
forma, por uma maior abertura do mercado a bandas como Metallica e Testament.
Aí, todo mundo queria começar a música com um dedilhado e fazer e amansar a pancadaria,
além de ter surgido toda uma geração que muito provavelmente não resistiu aos
outros modismos posteriores. Hoje em dia, não tenho mais essa visão acerca do
Thrash Metal, muito pelo contrário. Curto muito Slayer, Exodus, At the Gates,
Executer, Whiplash, Dark Angel, Exodus, Andralls, Funerot, The Haunted,
Pantera, e até o Sepultura também, bem como bandas de metal mais técnicas, como
Cynic, Dead Soul Tribe, Arcturus, Ulver, Opeth, Electro Quarterstaff etc.
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Poderia falar um pouco sobre outros projetos que você tinha com o Elder e
Argemiro. Tais como: Subersive Reek Mute Pertubation, Psychopathic Narrow e
outros.
KRANIUM - Tivemos vários projetos paralelos,
cada um com um som diferente: Psychopathic Narrow - projeto mais psicodélico,
quase hippie (risos) que montamos pra fazer um som viajão, cuja maior
inspiração foi sem dúvida o Godflesh, com letras de cunho existencialista e
vocais limpos, por influência das leituras de Jean Paul Sartre e Nietzsche que
fazíamos à época; The Saturday - banda mais na linha dos mestres do
Grind/Thrash, altas influências de Master, Deathstryke, Terrorizer, Nausea e
Majesty, principalmente. Gravamos uma única demo, num sábado, de onde surgiu o
nome, rsrsrs; Paresthesic Neurodeformities - projeto totalmente Noisecore, de inspiração
dadaísta, com o qual gravamos três demos, sendo as duas primeiras com diversas
músicas (138, na 1ª, e 200 e poucos na 2º) e uma terceira com apenas um som
longo e totalmente barulhento, entremeado de efeitos e recortes/colagens
sonoras; Scrappy Screws Orchestra - a
"Orquestra de Parafusos Desconexos" foi um mergulho radical no
experimentalismo, no qual extraíamos, junto com Kri-Kri, integrante de uma
outra banda Noise local, o V.D.S., som de qualquer coisa, incluindo moedores de
carne velhos, latas, fitas K7 rodadas ao contrário, teclados daqueles
primitivos, enfim, de qualquer coisa que emitisse som, utilizando letras ou
escritas por alguém, ou de poesias surrupiadas de livros didáticos. Isso tudo
de improviso, coisa comum a quase todos os projetos citados acima; Wireless
Helot - projeto mais organizado que a gente teve, com um som mais voltado para
o Death Metal, cuja única demo "Helot of Yourself", com quatro sons,
quase nem foi divulgada, embora a qualidade fosse até legal pra época; por fim,
Subversive Reek Mute Perturbation, ou S.R.M.P., que, acho legal explicar, não
foi um projeto, mas a continuação do Necrobutcher após o fim da banda, com os
mesmos membros, mas com um som assumindo de vez a postura Hardcore, com uma
roupagem crust/grind, e as letras críticas, focando principalmente os direitos
dos animais, o vegetarianismo, problemas ambientais, entre outros. Essa banda
foi pouco popular, mas com ela gravamos uma demo de melhor qualidade, alguns ensaios e chegamos a
lançar um split com o Filthy Charity, banda francesa de Grindcore, pela
gravadora Psychomania, da Escócia, por indicação do baixista do 7MON, que era
amigo do Hélder. Depois dessa gravação e algumas participações em coletâneas
K7, à banda acabou mesmo.
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"Gravavam as demos com o gravador caseiro, desenhavam as capas". Eu
acho foda ver uma coisa desse tipo... Hoje em dia as coisas parecem ser tão
artificiais, já entregue de bandeja, não acha?
KRANIUM - É verdade, cara, era tudo muito
artesanal mesmo, tudo feito pela gente. Até os braceletes e outros apetrechos
que a gente usava eram feitos de napa retirada de um sofá velho preto com
estofamento de papelão pra segurar os pregos, que eram grandes demais pra
ficarem de pé, hehehe. O cara saía na rua e já ia fazendo barulho,
porque os pregos ficavam batendo uns nos outros, hehehe. Até corpse painting
feito a guache a gente fez, que depois deu um puta trabalho pra tirar do rosto,
acho que deve ter ficado umas manchas por uns dias até, hehehehehe. Porém, eu
não vejo com maus olhos o fato de hoje em dia haver maior facilidade pra montar
uma banda, tocar com instrumentos melhores, divulgar o seu material sem custo
praticamente nenhum e ainda poder ter contato com o mundo todo pela internet;
pelo contrário, acho que é ótimo haver toda essa possibilidade de intercâmbio,
dependendo de como se aproveita essa tecnologia e suas facilidades. Em primeiro
lugar, houve o inevitável surgimento da internet e sua inevitável
popularização, que tem ajudado, e muito, na divulgação das bandas mais novas,
bem como na circulação mais rápida de ideias. Basta saber como aproveitar isso
pra se construir uma cena sólida e realmente internacionalista, como sempre
defenderam os anarquistas; além disso, se gastava muita grana há cerca de 17,
18 anos atrás pra se mandar qualquer coisa pra fora do País, ou mesmo aqui
dentro. Além disso, mesmo as cenas de países distantes e com pouca tradição na
música extrema, como Egito, Líbano, Paquistão, Turquia ou Marrocos, estão
aparecendo hoje graças à internet, embora musicalmente eles mantenham uma
sonoridade bem primitiva, bem parecida com a década de 1980. Em segundo, acho
que realmente não é possível esquecer que naquela época tudo era mais
complicado e que só se mantinha ativo na cena quem tivesse muita vontade de
tocar ou de fazer seu zine, por exemplo, mas não considero que todos que
começaram hoje, nessa era de facilidades, sejam modistas, nem que nós tenhamos
sido mais "reais" do que a geração do presente. Sei que muitos deles
vão abandonar a sua atual "ideologia" logo que arrumarem uma namorada
ou um emprego, mas isso não se pode prever. Eu também acredito que muitos deles
continuarão na cena independentemente disso, pois a música alternativa, pra
usar um termo bem genérico, sempre teve seus seguidores, tenha o estilo sido
moda ou não em algum momento. Então, acho que o lance é continuar apoiando a
galera mais jovem e acompanhando a cena, com suas todas as suas inevitáveis
mudanças, até porque saber mudar e crescer com isso é algo importante e também,
desculpem-me pela insistência, inevitável.
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O Radicalismo prejudicou o Necrobutcher ou ajudou a consolidar essa "aura
maldita" influenciando várias bandas? Você ainda continua com essa
ideologia radical de outrora?
KRANIUM - Acredito que foi uma faca de dois
gumes: por um lado, criou uma imagem forte e chamou a atenção de muita gente,
porque reforçávamos essa ideologia por meio de uma argumentação que
considerávamos coerente e não tínhamos nenhuma pretensão de agradar a esta ou
àquela banda ou revista. Então, havia uma faixa de público, composta por gente
como nós, que precisava se fortalecer, bem como fortalecer a cena mais extrema
de forma a não se enquadrar naquela imagem associada ao Sepultura ou às bandas
que estavam se profissionalizando, por que considerávamos que isso seria perder
a essência underground. Nesse sentido, manter essa postura rígida e coerente
foi bom, porque acho que ajudamos, sim, a dar impulso a novas bandas formadas
em sua maioria por caras que também estavam a fim de criar uma nova identidade
e se posicionar criticamente em relação à sociedade de consumo com base numa
espécie de pureza estilística, que hoje talvez não seja mais viável. Por outro
lado, acho que essa ideologia foi um pouco prejudicial, em certa medida, porque
sempre tem as pessoas que interpretam de forma errada a coisa e acabou se
criando uma "moda radical" (rsrsrsrsrs), o que é um contrassenso
total, né? Sem contar que foi a busca por essa coerência que nos levou a um
caminho sem volta, praticamente nos colocando na obrigação de acabar com a
banda caso começássemos a ganhar popularidade. Certamente, olhando pra trás,
acho que havia certos excessos que hoje não têm mais nada a ver, como, por
exemplo, achar que pipoca ou sorvete era coisa de poser, hehehehehehehehe.
Quanto a ainda defender aquela forma de radicalismo, acho que cada pessoa tem o
direito de ser o que ela quiser... Ser radical pressupõe, de alguma forma, se
considerar dono de uma verdade, mas hoje em dia não acho que essa verdade
exista e nem que eu possa impor algum tipo de comportamento a alguém. O
radicalismo acabou gerando uma postura autoritária demais por parte de muita
gente, uma intransigência que não combina com uma manifestação artística e
política como a música ou a antimúsica. Assim, vejo que todas as formas de
expressão são legítimas e interessantes, embora eu não necessariamente goste de
tudo que rola por aí. Penso que o radicalismo foi importante naquele contexto
do final dos anos de 1980, já que era preciso que aquela proposta de selvageria
(anti)musical e atitude se firmasse numa cena metálica forte, porém, um tanto
despolitizada e com uma tendência a se deixar levar por modismos e pela excesso
de virtuose em detrimento de uma postura mais crítica em relação à sociedade.
Por outro lado, também não tenho nada contra quem hoje se defina como radical,
é uma opção de cada um.
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O Necrobutcher sempre se disse influenciado por bandas Punks. O que acha dessa
já "cansada" divisão entre Punks e Metal que ainda existe, acha a
união uma utopia? E sobre o Nazismo infiltrado no Metal, qual sua opinião sobre
isso?
KRANIUM - Sim, sempre ouvimos muito
hardcore/punk, incluindo Terveet Kädet, Rattus, Rapt, Mellakka, Kaaos,
Discharge, Cólera, Olho Seco, RDP, do tempo do "Crucificados", e
adotamos também uma postura mais politizada logo que começamos a entender
melhor a filosofia punk, tanto nas letras quanto no dia-a-dia, em nossas
atividades paralelas à banda, pois andávamos quase sempre com os poucos punks
daqui, inclusive agitando fanzines, manifestações contra o 7 de Setembro e
lutando em prol dos direitos dos animais. Aqui na nossa região nunca houve
muitos problemas quanto a essa desunião, ou pelo menos não que tenha
acompanhado, mas acho uma enorme besteira sem sentido ficar alfinetando quem
quer que seja somente porque a pessoa tem essa ou aquela postura ou gosto
musical. Sou, sim, favorável a uma fusão de tudo que é legal, de todos que
ainda veem na arte uma forma de emancipação do sujeito e defendem a
criatividade como saída contra a burrice que põe em risco o mundo em que
vivemos. Não acho que seja utopia, não, mas isso só muda quando as pessoas
mudam e, para que elas mudem, é preciso se informar, se educar e abrir a cabeça
pro mundo, não se fechar em movimentos obscuros e autoritários. Quanto ao
nazismo, talvez nem precisasse gastar o tempo do leitor com isso, mas não acho
legal, embora eu não vá sair por aí esmurrando nenhum defensor dos ideais de
Hitler; porém, acho um perigo que algumas cabeças mal-intencionadas e
perturbadas sirvam de exemplo pra muita gente, principalmente pra uma gurizada
jovem demais que, influenciável, sai por aí espalhando violência estúpida
contra minorias ou achando que os problemas do mundo estão nas diferenças entre
as pessoas. Isso, sim, é preocupante. No início da década passada, toda aquela
história de assassinatos e intolerância nazista, principalmente envolvendo o
pessoal do Black Metal, já causou muito estrago e foi motivo de muita piada
também.
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Tem uma letra "Tolerantionism (Symbolical Retreat)" do projeto
Subersive Reek Mute Pertubation que é uma crítica ao Black Metal. Do que se
trata essa crítica?
KRANIUM - Bem, continuo aqui a resposta à
pergunta anterior. Essa letra partiu exatamente da observação e discordância
dessa posição intolerante que estava assumindo proporções absurdas, como um
sujeito que curte Black Metal querer brigar com um fã de Death Metal! Ora, pra
mim, Black e Death Metal são parte da mesma coisa, têm histórias parecidas e
vêm da mesma fonte. Esse pessoal que se leva a sério demais acaba distorcendo
as coisas e mergulhando num fosso cada vez mais profundo - o da ignorância - no
qual pretendem se isolar, contribuindo para o fim daquilo que eles mesmos
defendem, ou seja, essa visão tacanha das coisas só prejudica o Metal.
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Qual foi o motivo para o fim do Necrobutcher? Há alguma chance de voltar ou foi
só passado mesmo?
KRANIUM - O fim do Necrobutcher se deu pelas
razões que apontei acima: devido ao excesso de cobrança da nossa parte por
coerência, chegou um ponto em que muita gente começou a nos escrever, em que
começamos a ficar "populares" demais, e então, em nome dessa
coerência, era hora de terminar o Necrobutcher para que ele não virasse também
uma moda. Não sei dizer se a melhor decisão ou se eu faria isso de novo hoje em
dia, mas a foi a decisão que tomamos naquele momento. Foi aí que surgiu o SRMP,
com a finalidade de ser ainda mais underground. Além disso, algum tempo depois,
meu irmão, o guitarrista Argemiro (Skull Detonator) também foi embora da cidade
pra estudar no interior (em Lages) e aí a banda não voltou mais a tocar. Hoje
em dia, não vejo chance de haver uma volta do Necrobutcher. Se fosse pra tocar
um som pancada de novo, seria numa outra banda, com outro nome e uma nova
história.
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Você ainda anda em shows de Metal? Quais bandas atuais de Santa Catarina você
destacaria? E como vê o Metal hoje?
KRANIUM - Sim, quando posso vou aos poucos
shows que acontecem aqui. Estou pouco por fora da cena local, mas posso citar o
Osculum Obscenum, que faz uma puta sonzeira, e também o pessoal do Brutal Butchery,
aos quais assisti uma vez e achei do cacete, um Death Metalzão bem trabalhado e
muito agressivo, feito por uma rapaziada jovem. Também não posso deixar de
citar o Flesh Grinder, que estão há muito tempo detonando na cena também, e o
Luciferiano, ambas de Joinville. Tínhamos aqui o Krophus, que foi umas das
últimas bandas daqui a se tornar mais conhecida fora do Estado, mas que
infelizmente acabou, embora fosse muito boa também, e mais Rhesthus, Syndrome e
algumas outras que posso ter esquecido...não dá pra lembrar de todo mundo
também, né? Sobre o Metal hoje em dia,
posso citar as bandas que acho boas e que tenho acompanhado, entre bandas
nacionais e estrangeiras, como Dark at Dawn (Ger), Sad Theory, Sanctifier,
Volbeat (Din), Poisonblack (Fin), Charon (Fin), El Caco (Nor), Farmer Boys
(Ger), Carnival in Coal (Fra), Driller Killer (Sue) e diversas outras dentro de
todas as tendências do Metal, Hardcore e outros estilos, desde que essas bandas
façam um som com atitude e criatividade. Ainda assim, o que mais escuto,
certamente, são as bandas das antigas.
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Kranium, agradeço à atenção, e novamente digo que é um privilégio ter o
Necrobutcher em páginas do C.E. zine. Alguma mensagem final pros maníacos no
mundo?
KRANIUM - Alessandro, eu é que agradeço pela oportunidade,
que me fez reviver muita coisa legal, revirar muitas histórias de um tempo
muito rico do Metal nacional. Como eu já te disse em outra oportunidade, nunca
imaginei que nosso som poderia chegar tão longe, nem que nossas ideias fossem
atravessar o tempo. Além disso, também é legal poder rever certas coisas, resignificar
certas atitudes e esclarecer um pouco do que foi o Necrobutcher pro pessoal
mais novo, bem como fazer muita gente lembrar dessa época. Não tenho nenhuma
mensagem específica, mas se alguém quiser escrever, principalmente o pessoal
das antigas com quem eu nunca mais tive contato, pode divulgar meu e-mail
(cristianoalvinegro@hotmail.com) que eu procurarei conversar com quem tiver
interesse em bater um papo. No mais, o lance é não se deixar levar pela moda,
porque o Metal sobrevive e sempre vai ter um bando de malucos dispostos a fazer
barulho por aí. Um grande abraço e até mais!
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DT Schizophrenic Cristianity (1988)
DT Corrosive Noise Torment (1989)
LP/CD Schizophrenic Noise Torment (2013)
Formação: C.
Kranium (v), A. Skull Detonator (g) e H. Satan Leprofetus (bt). Barulhos: Schizophrenic Cristianity
(1988 - DT), Corrosive Noise Torment (1989 - DT) e Schizophrenic Noise Torment
(2013 – LP/CD).
Agradecimentos: Cristiano (Necrobutcher), Clay S. da Battle Distro pelo esforço em efetivar esse contato
para entrevista, Mozart Rodrigues e Wilson Jr. pelas fotos e ao Leonardo Cunha e Marcel Marçal pela força firmada com o Cursed.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito boa sua entrevista.
ResponderExcluirParabéns pelo trampo e obrigado pelo agradecimento.
Abraços.