sábado, 4 de maio de 2013


PSYCHIC POSSESSOR
(CROSSOVER/HARDCORE-SP)


25 anos do disco "Toxin' Diffusion" e 24 do "Nós somos a América do Sul", o PSYCHIC POSSESSOR continua atual tanto no Hardcore quanto no Metal. 2013 tive uma triste notícia com a morte do Márcio Nhonho. Em homenagem aos que queriram relembrar da banda, coloco uma entrevista feita pelo Gustavo e por mim em 2005 com o Zé Flávio, mentor da banda.

"Primeiro de tudo gostaria muito de agradecer a atitude de manter viva a chama PxPx depois de tantos anos, isso me deixa com a sensação de que não foi em vão toda luta e tudo que tenho acreditado durante todos esses anos." - Zé Flávio

Alessandro E. N. e Gustavo Alves.
Cursed Excruciation #01, set. 2006


- Para começar, gostaria que você falasse um pouco da sua trajetória musical/política no underground. 
época Toxin' Diffusion
ZÉ FLÁVIO - Tenho 25 anos dedicados ao underground e por mais que me esforce essa certamente não será uma resposta curta. Comecei cedo na cena, era uma criança bem rebelde, falo sobre isso porque comecei ainda criança, então um belo dia um amigo meu apareceu com disco do Kiss na rua e eu tinha uns 10 anos de idade, se não me engano era o Rock'nRollOver, quando ouvi aquilo falei, meu deus, esse som faz o sangue ferver, rs... era pesado pacas na época, rs... daí em diante fui contaminado pelo som pesado, eu era uma criança rebelde e revoltada, odiava musica de radio em geral, quando ouvi o peso foi paixão imediata; ainda hoje brinco com amigos quando ouvimos algum som novo dizendo "O medidor de ódio esta pulsando" o que quer dizer que a banda é boa! Vc sente a alma não apenas ouve o som, com certeza quem esta lendo e gosta de som pesado sabe de que estou falando. Eu acredito que em termos de HxCx, metal, musica pesada em geral é 90% ódio e revolta e 10% o resto, esse percentual varia um pouco de banda para banda, mas geralmente menos que 50% de ódio meus ouvidos recusam. Resumindo bastante, eu tinha uma guitarra elétrica que havia ganho com 6 anos de idade, eu pedi a meu avo que comprasse pra mim, de 10 para 11 anos já tinha alguns discos como KISS, Iron Maiden, Urian Heep, Black Sabbath, Van Hallen, Sex Pistols, Ramones e diversas coisas da época. Minha entrada na cena como pseudomusico, porque não me considero um, se deu aos 12 anos quando estava em uma loja de discos e chegou o Uruka, vocalista do Vulcano, bem, eu tinha umas musicas feitas já guardadas, conteúdo rápido e pesado pra época e resolvi mostrar minhas musicas pra ele, cheguei na cara de pau e falei: " Ei, meu nome é Ze Flavio toco guitarra e tenho umas musicas, vc gostaria de ouvir, quem sabe?" para minha surpresa ele topou, meio desconfiado, fomos até minha casa, era realmente perto e eu mostrei as musicas a ele, ele me convidou a mostrá-las no ensaio do Vulcano oficialmente, eu nem acreditava, eles eram gigantes na época no Brasil, tinha pouquíssimas ou nenhuma banda tão conhecida no cenário nacional como eles, então depois do primeiro ensaio, me convidaram pra tocar na banda, pra vc ter uma idéia tiveram que ir em casa pegar autorização para que eu pudesse viajar com a banda pelo interior, coisa rara naquela época, o interior fervia eram ônibus e mais ônibus não tinha show gringo ainda, eu era uma criança 12 anos, depois gravei meu primeiro disco com recém 13 anos de idade. Gravei dois LP's com o Vulcano e decidi deixar a banda, eu amava os caras, o Zhema (vulcano) foi como um pai para mim dentro do underground, mas queria fazer outra coisa musicalmente falando, também era muito moleque e só fazia besteira. Muitos dentro da cena viraram a cara para mim e aprendi desde de cedo a ignorar a opinião popular e seguir pela minha cabeça, modismo sempre me incomodou. Decidi junto com o Lauro (hoje Explicit Repulsion) criar o PxPx começamos a ensaiar e tocar sem batera, fazia as musicas imaginando a bateria, era engraçado, chamamos o Arthur para gravar o Toxin Diffusion, resumindo o PxPx gravou dois discos, falarei mais a respeito do outro durante o restante da entrevista; desmontamos a banda, criei o Safari Hamburguers, gravamos um álbum, mudei para Brasília, quando voltei a São Paulo montei o Sociedade Armada junto com o Fernando (até hoje vocal da banda) e então decidi me aposentar musicalmente, a ideologia e revolta permaneceram intactas dentro de mim rs... na verdade bem amplificadas pela experiência e a idade rs... depois de muito tempo parado, mas sem nunca perder a veia de ódio, eu decidi voltar com um projeto filantrópico chamado South American Voice ou SxAxVx algo que eu pudesse fazer com a minha musica além de empolgar e acordar as pessoas, queria algo que ajudasse as pessoas mais necessitadas, algo com resultado visível e imediato. Desculpe o tamanho da resposta, mas aqui não tem 1/3 da história toda ai :).

- Sobre o Psychic Possessor... Desde o primeiro album da banda (ou até antes) você fala que não põe um centavo no bolso com a música, ainda tem esse pensamento? e o que você acha dos que fazem? 
época Toxin' Diffusion
ZÉ FLÁVIO - Sim, durante todo esse tempo NUNCA ganhei dinheiro com a musica, ao contrário, gastei muito, sempre paguei tudo de próprio bolso; não sei nem quanto meus discos venderam, tudo que fiz considero de domínio publico, querem gravar o PxPx façam, querem copiar façam, querem fazer versões façam, quer fazer site, eu agradeço, não me importo é de uso geral sempre pensarei assim, porque a musica para mim sempre foi uma válvula de escape, foi meu grito de revolta, antes que alguém se pergunte: "Ué mas ele não é guitarrista? Gritar com uma guitarra? Estranho!" em todas as bandas que toquei sempre estive comprometido diretamente com a criação, composição e letras, posso dizer que 98% dos projetos que participei foram diretamente criações minhas as vezes em parceria com os outros membros da banda, por isso digo, gritava mesmo! Gosto de tocar com pessoas diferentes sentir a energia delas e direcionar para um objetivo comum, sou bom nisso, mas não é mérito meu, é um dom que Deus me deu e eu agradeço, gosto muito de fazer isso; voltando a grana; eu sempre trabalhei para ganhar meu dinheiro então não vejo relação entre a musica e dinheiro para mim não faz sentido. Sobre quem o faz som pensando na grana, sei lá, gosto de pensar na liberdade de escolha de cada um, cada um faz o que quer, só acho que o dinheiro corrompe tudo; geralmente onde o dinheiro passa a fazer diferença abre-se uma brecha para manipulação de todo tipo, isto musicalmente falando não é legal, admiro muito o Racionais no sentido que eles agem exatamente como eu fazia no underground, eles não se rendem ao dinheiro nem a mídia, não querem perder o poder do contexto, vc entende o que quero dizer?.

época Toxin' Diffusion
- Em uma entrevista antiga a Rock Brigade, você fala que desde os tempos do Toxin Diffusion a banda queria fazer uma sonoridade mais pro Hardcore, então qual o motivo do disco ter tendido mais ao Metal? 
ZÉ FLÁVIO - Eu tinha acabado de sair de uma banda de metal (N.: Vulcano), tinha muito disso no sangue, ainda tenho rs..., mas eu tinha muitas bases prontas e foi inevitável colocar isso para fora naquele formato naquele momento.

- Como surgiu a oportunidade do Vladimir Korg (Chakal) participar do 1° disco de vocês? 
ZÉ FLÁVIO - Conheci o Wladimir quando passei um pequeno tempo na casa do Igor e do Max (sepultura) em BH; esse cara ai é um guerreiro, um batalhador, um puta vocal, foi inevitável com aquela voz, gente fina + atitude + vocal agressivo = oportunidade, tenho saudades não só dele mais de todo pessoal de BH conheci gente muito boa de atitude e coração puros.

- Qual o por que daquela mudança de sonoridade do Toxin Diffusion para o Nós Somos a América do Sul? Apesar da banda (desde o primeiro álbum) tender bastante ao Hardcore, mas é nítida a mudança de rumo musical. 
ZÉ FLÁVIO - Sim, como te disse anteriormente, na medida que fui liberando algumas composições e coisas que tinha guardado no primeiro disco e considerando o fato da mudança dos membros da banda, foi natural; eu estava ouvindo dez vezes mais HxCx do que metal na época enquanto estávamos trabalhando no segundo disco, naquela época ouvia muito Minor Threat, Uniform Choice, Cryptic Slaughter, gosto de pensar nisso como uma evolução sonora mas principalmente ideológica, gosto de ouvir coisas que façam meu medidor de ódio pulsar, hoje em dia ta tudo muito misturado, não da mais pra saber o que é quem, tem que ficar experto sempre na letra e ver se não estão falando abobrinha, eu ainda acredito na musica como forma de protesto então nunca fui muito eclético. Hoje ouço Racionais coisa que jamais pensei que um dia fosse curtir, RAP, é totalmente fora da minha realidade mas faz meu medidor de ódio pulsar, eles são verdadeiros; bandas emo e muito do que tem de novo ai não fazem nem minha vó se assutar, sinceramente não me agrada, broxante.

época Nós somos a América do Sul

- Por que o Lauro saiu da banda depois do lançamento do Toxin Diffusion? Isso tem alguma ligação com a mudança de direcionamento musical da banda? 
ZÉ FLÁVIO - Não diretamente, naquela época o RxDxPx (Ratos de Porão) estava fazendo o caminho oposto ao nosso, eles estavam colocando algumas bases mais metal no som que era puro HxCx, nós migrando de metal para HxCx quase que 100%, o Lauro era realmente muito fã deles e claro que tentava puxar influencia para as novas musicas, mas a verdade verdadeira é que eu e o Lauro brigávamos muito, eu era muito moleque na época, fizemos muita merda que não vale nem apena comentar aqui, eu era um pentelho, talvez um dia meus filhos leiam isso, rs... devo admitir que eu era muito mais moleque do que ele, eu realmente não me lembro de verdade porque ele saiu, uma coisa é certa embora brigássemos estávamos sempre juntos, como todo bom irmão não dá pra não brigar, ele nunca deixou a cena, assim como eu, hoje ele toca no Explicit Repulsion e sempre que nos encontramos em shows é muito legal.

- Em entrevistas antigas, você sempre falava que o Psychic Possessor nunca gostou de tocar com bandas de Metal, Por que? já que o primeiro álbum tende também ao estilo. 
Márcio Nhonho - R.I.P. 2013
ZÉ FLÁVIO - Aqueles eram tempos totalmente diferentes de hoje em dia, quem ler essa entrevista e não passou pelos anos 80 não entenderá o porque, éramos vaiados em show de metal, chamados de traidores, coisas ridículas da época, traidores do metal!. Quando começou a onda Crossover com D.R.I. a coisa começou a mudar. Chegamos a tocar para excelentes públicos mistos sem problemas, devo ter dito isso lá traz no começo quando isso era uma realidade, punk ainda brigava com metal, e vice-versa hoje não da nem pra saber quem é punk quem é metal rs...

- O Psychic Possessor já teve alguns problemas com a gravadora (Cogumelo Records), um deles foi o lançamento do segundo disco. Quais outros problemas ocorreram nesse tempo que o Psychic Possessor estava na ativa? e hoje ainda existe algum problema com a mesma? 
ZÉ FLÁVIO - A Cogumelo é uma excelente gravadora, o problema fomos nós, João Eduardo o dono da Cogumelo é uma excelente pessoa sua esposa idem, descentes e trabalhadores e não é fácil ter uma gravadora nesse pais, mesmo assim, ele continua lá firme e forte, hoje se tivesse que escolher uma gravadora seriam eles, eles não interferem em nada no que vc quer fazer, o sociedade armada continuou com eles, o mesmo para o Safári Hamburguers, eles te dão liberdade total, uma vez contratada a banda grava e lança o que quer! Indico para todas as bandas, isso é uma gravadora livre de verdade. Nós sempre estávamos atrás de encrenca e se não tinha encrenca então não tinha graça, essa é a verdade, a Cogumelo foi à bola da vez em um dia que acordamos de pé esquerdo.

- Depois do álbum Nós Somos a América do Sul, ocorreu mudanças na formação e mais ou menos em 1992 houve o fim das atividades, o que ocasionou o fim da banda? 
ZÉ FLÁVIO - Isso sempre foi um assunto um pouco proibido, quero dizer, nunca passei a frente, não vou faze-lo agora porque envolve a vida de outros membros da banda, prefiro explicar assim: Musicalmente queríamos a mesma coisa, ideologicamente como banda queríamos a mesma coisa, em termos de amizade estavamos super entrosados, inclusive foi a melhor banda que toquei na minha vida, agora em termos de ideologia pessoal, chegou um ponto onde todos queriam ficar alto, queira curtir e eu não achava certo no sentido que estava influenciando diretamente o resultado dos ensaios da banda, sou careta sim, sempre fui, alias, o PxPx não acabou realmente por conta da minha caretice, eu ia sair da banda e deixar seguir, os caras decidiram não levar mais a banda a frente, eu achei uma atitude de respeito, respeito mutuo, isso só mostra como éramos especiais uns para os outros, eles foram a melhor banda que toquei, hoje, com a idade e a experiência certamente eu teria uma atitude diferente; mas o tempo não volta.

- Logo depois do lançamento do Good Times do Safari Hamburguers, por que você saiu da banda? Como ocorreu sua entrada no Sociedade Armada? 
ZÉ FLÁVIO - Casei e recebi uma proposta de trabalho para morar em Brasília, decidi aceitar e deixar a banda, a banda prosseguiu sem mim, decisão deles, eu respeitei, inclusive hoje eles estão de volta por sugestão minha. Na minha volta de Brasília encontrei com o Fernando um dia que eu estava andando de tarde na praia e falei que queira fazer outra banda, tava sentindo falta de tocar, ele falou que toparia e ai foi acontecendo, juntou a fome com a vontade de comer, chamamos o Medina o Fio e foi amor ao primeiro ensaio, é a segunda banda que mais amei tocar, éramos MUITO unidos.

- Em 2002 chegou a ser anunciado o relançamento do Good Times do Safari Hamburguers em cd, o que não ocorreu. Porém, logo depois o Nós Somos a América do Sul foi relançado. O que você tem a dizer sobre esse fato? 
ZÉ FLÁVIO - Não sei o que te dizer. Domínio publico cara, para mim é domínio publico! Eu não controlo essas coisas, eu nem mesmo acompanho, nunca acompanhei, to sabendo que o Safari vai sair porque agora estou bem próximo ajudando eles na produção musical das novas musicas, espero poder pelo menos ajudar a acabar o novo álbum, não sei se conseguirei por força do meu trabalho oficial que esta puxadissimo. Em todo caso acho importante reafirmar que eu realmente não me importo com tanto que o contexto esteja lá, a mensagem seja dada sem alteração de contexto, quero dizer, o grito de revolta que queria dar naquele momento esteja lá sem alterações.

- Em 2001 você saiu do Sociedade Armada, por que a saída? Você envolveu-se em algum projeto depois? há algum ressentimento entre você e a banda? 
Flyer de lançamento do Toxin' Diffusion
ZÉ FLÁVIO - Nunca!, Sociedade Armada até a morte!!! Quase tatuei no corpo o logo da banda, preciso deixar uma coisa clara aqui, a única banda que toquei e não fundei foi o Vulcano, todas as outras estive envolvido diretamente na criação das bandas como musico e mentor, logo, não são bandas onde toquei e sim filhos que coloquei no mundo rs... Eu não sei realmente porque sai :) acho que nem eu,nem ninguém na banda pode te responder isso :) foi um desgaste natural, a gente criou a banda para nunca aparecer, nunca divulgar, nunca nada, vc entende? Isso fazia parte da ideologia da banda! Radicalismo mesmo! era uma válvula de escape para todos nós, tínhamos regras duras com relação à mídia e locais de shows, todos trabalhavam muito em seus empregos, fomos nos fechando em nos mesmos, era o que queríamos fazer na época, porém hoje em dia eles continuam com força total, não sei dizer se hoje é como antes, em termos de radicalismo, sei dizer que SxAx mora no meu coração e o "Ordem e Progresso", primeiro CD sem minha participação, esta sempre a mão para ouvir, medidor de ódio altíssimo!!!!. Minha saída não foi absolutamente nada pessoal, musical ou ideológica. Para vc entender minha relação com a banda vou comentar algo que nunca vou esquecer, talvez uma das coisas mais marcantes durante todos esses anos; um dia, fui em um show do Sociedade Armada aqui em Santos, já estava fora, fui assistir o show, era Sociedade armada, Ação direta, um puta show!!! Lotado! Os caras tipo agradeceram minha presença pelo microfone e comentaram sobre os meus anos de serviço prestado ao underground e todos os presentes aplaudiram! Alguns de pé! Cara, não consigo descrever aquele curto mas eterno momento em palavras, o que senti? Não da pra explicar, era muita gente, gente pacas, tudo que pensei naquela hora foi: "Valeu a pena!!! E gritei: "Toca "Rotina" porra!!!!" e meu coração se encheu de agradecimento, vc perguntou sobre dinheiro em algumas questões anteriores, e eu continuo dizendo que foda-se o dinheiro, quando vc ouve isso e olha para sua história pessoal vc pensa: "Fiz tudo de cara limpa e sem nenhum interesse que não protesto" isso não tem dinheiro que pague! sua honra saca? Quando alguém houve todas as minhas musicas e sabe a letra de cor, isso pra mim vale uma vida cara. Continuando a resposta, hoje não toco mais em banda, criei um projeto chamado South American Voice ou SxAxVx que é com finalidade de filantropia, o som é um mix de Socidade Armada + Psychic Possessor + Safári Hamburguers afinal, isso é só o que sei fazer, não sou musico, financiei tudo do próprio bolso porque acredito em ações sociais, chamei vocais de peso para cantar minhas musicas, como o Fernando (Sociedade Armada) , Gepeto (Ação Direta) , Gordo (RxDxPx) um dos caras que mais respeito, Fabio (Paura) e ainda Ale (DipLik) na batera, fiz todas as musica e gravei o baixo, guitarras e alguns vocais, é um projeto legal e vale a pena conferir, encare esse projeto dessa forma: sempre que eu quiser gritar agora eu criei meu próprio espaço, SxAxVx é meu espaço.

- Apesar de você já ter declarado que teve vários problemas com a Cogumelo desde o lançamento do Toxin Diffusion, por que você lançou seus trabalhos com o Safari Hamburguers e com o Sociedade Armada por esta mesma gravadora? Você nunca chegou a pensar em lançar seus trabalhos de forma independente? 
ZÉ FLÁVIO - Os problemas com a Cogumelo como disse antes eram frutos de minha imaturidade mesmo, todas as bandas que vc citou continuam com a Cogumelo :) . Sobre fazer discos, cds de forma independente, quero deixar claro que eu não vivo da musica, logo não teria tempo pra isso cara, lançar, correr atrás, vender, não é minha praia, já faço musica, letra, arte dos Cds e bolo todas as paradas, mas essa parada de produção independente prefiro deixar para quem tem mais corrida.

Toxin' Diffusion

- Recentemente soubemos que você voltou para o Safari Hamburguers, você confirma isso? Há algum plano de gravar novo disco? será pela Cogumelo? 
ZÉ FLÁVIO - Toquei em apenas um show para ajudar a banda eles estavam com apenas uma guitarra e Safari Hamburguers foi feito para ter duas guitarras, todas as musica exigem isso; acredito que eles estão pegando outro guitarra, eu não toco mais na banda não, estou ajudando na produção musical hoje que já tem três musicas novas, mas é apenas uma ajuda.

- Em 2002 houve o relançamento do disco Nós Somos a América do Sul (pela série Cogumelo Remasters), o mesmo possui uma ótima arte gráfica, mas a remasterização do som deixa bastante a desejar, por que houve essa produção (musical) tão fraca? 
ZÉ FLÁVIO - Pelo que soube na radio peão a fita master tava danificada, meio derretida, mas não posso afirmar.

- O que ocorreu para a musica depois de América do Sul não ter entrado nesse remaster? 
ZÉ FLÁVIO - Parece que era à parte mais danificada da fita.

Nós Somos a América do Sul

- Como você vê o relançamento do Toxin Diffusion em cd, que será feito ainda este ano? Há alguma música gravada pelo Psychic Possessor que nunca foi lançada? sera inclusa nesse remaster? 
ZÉ FLÁVIO - O Psychic Possessor tinha 17 musicas novas quando terminou, estávamos com o disco novo pronto! Seria legal fazer uma coisa nova naquela linha para constar como novidade no CD mas a logística pra fazer isso hoje é muito complicada ta cada um ta para um lado.

- O que você achou dos covers do Psychic Possessor feitos pelo The Mist, Ratos de Porão e D.F.C.? 
ZÉ FLÁVIO - Maravilhosos cara!!! Como disse antes essas coisas que fazem valer a pena, quando as pessoas demonstram respeito e empatia de idéias, para mim banda é pra isso difundir idéias ao tocarem nossas musicas estão reafirmando nossa idéia e assinando em baixo, acho isso gratificante.

- Caso o Psychic Possessor voltasse hoje, qual álbum tenderia mais a sonoridade? e Por que? 
ZÉ FLÁVIO - Tentamos voltar acho que em 2002, para gravar aquelas musicas que ficaram para trás, mas não deu certo, diria que não foi o momento!. Se fossemos fazer musicas novas hoje, o som talvez seria muito diferente, não por mim porque basicamente não mudei bosta nenhuma, não evolui musicalmente e ainda ouço basicamente as mesmas coisas, porém o Mauricio toca no Ratos de Porão logo traria uma pegada mais Ratos, o Fabrício e o Farofa tocam hoje no Garage Fuzz e trariam uma pegada mais Garage, acho que seria uma mistureba danada, mas a idéia de pelo menos gravar as musicas que ficaram largadas me agrada, tenho uns mp3 destes ensaios de 2002 aqui.

- Qual sua opinião sobre bandas de NSBM (National Socialist Black Metal)? que abordam temas como Nazismo, supremacia branca e outros... 
época Nós somos a América do Sul
ZÉ FLÁVIO - Black metal nazista? Nunca ouvi falar disso, to velho mesmo. Em todo caso hoje eu tenho uma resposta padrão para esse tipo de ideologia racista, a mesma para granfinos, pessoas que dirigem sua vida pelo dinheiro, e coisas sem importância: evoluam! viemos aqui, nesse planeta, para evoluir e cair fora, leiam "Nosso lar" de Chico Xavier, ignorem a religião mas usem os ensinamentos que são sábio, eu não prego nenhuma religião, eu mesmo não tenho religião logo não posso indicar nenhuma, mas posso indicar uma boa literatura, nós todos, seres humanos, estamos aqui para evoluir esqueçam coisas sem importância como a cor da pele.

- Quais projetos/bandas você está envolvido atualmente? 
ZÉ FLÁVIO - Estou tentando lançar o SxAxVx que esta pronto a dois anos quase, ainda não pude faze-lo por forças diversas, estou envolvido no momento na produção musical do Safari Hanburguers, gostaria de fazer mais porém ando trampando demais.

- Algum plano para o futuro? 
ZÉ FLÁVIO - Lançar o SxAxVx e quem sabe fazer o dois, três, quatro, sempre trazendo músicos diferentes. To pensando em produzir musicalmente bandas, tenho esse dom que deus me deu e quero usa-lo para ajudar as bandas, mas na verdade no momento preciso tocar minha vida profissional.

- Você mantém ainda contato com os antigos membros? como o Lauro, Márcio, Fabrício e o Boka. 
ZÉ FLÁVIO - As vezes encontro com eles em shows, mas não é freqüente.

- Qual sua opinião sobre a volta das bandas como o Chakal, Holocausto, Vulcano (banda que você tocou) e outras? tem acompanhado algum lançamento dessas bandas? 
Alexandre "Farofa", último vocal do PxPx
ZÉ FLÁVIO - Lindo cara, isso ai é legal de ver, sorte a todos eles!.O Vulcano ouvi sim, pedreira, gostei muito, o guitarra toca muito, chakal preciso entrar em contato com eles, muito tempo sem contato, Holocausto, soube que voltou agora por vc, gostava muito do som deles.

- Estamos em pleno período de copa do mundo (2006), nesse tempo o povo brasileiro começa a vestir e agir como "nacionalistas", você acha que isso seja mesmo uma Consciência Nacionalista ou uma Alienação Nacionalista? 
ZÉ FLÁVIO - Ah se o povo brasileiro fosse mais culto cara! Só falta isso pra gente; cultura de base, seriamos um pais do primeiro mundo; pegar a camada mais pobre e instrui-los. Nenhum f.d.p. político faz porque sabe que ai os critérios de qualidade vão aumentar e automaticamente eles estariam fora, porque político no Brasil não é saber fazer é saber vender. Se olharmos para o futebol como um momento de união é lindo do ponto de vista que é sentimento popular e autêntico, quero dizer, ninguém manda o povo fazer isso, ele vai lá e faz por ele mesmo, se sente parte de algo, vc percebe que as pessoas amam o pais querem ter referencia, mas só que depois da copa só fazem merda de novo, então isso não adianta nada, o Brasil precisa de cultura de base.

- Tendo lançado ótimos trabalhos pelas bandas que você lançou, influenciado vários músicos e composto músicas que serviram como trilha sonora da vida de algumas pessoas (inclusive os 2 responsáveis por esta entrevista), qual é o maior orgulho e o maior arrependimento que você tem nestes mais de 20 anos da tua carreira musical? 
época Nós somos a América do Sul
ZÉ FLÁVIO - Orgulho? Bem, cada vez que ouço coisas como as que vc acabou de dizer no corpo da pergunta sinto aquele sentimento VALEU A PENA mas uma vez!!! Isso me orgulha muito porque eu sempre fiz musica de protesto, sem nenhum interesse outro que o protesto e com a certeza no fundo da alma sabia que alguém ouviria e entenderia meu ponto de vista, quando as pessoas, alem de gostar ainda concordam só tenho a dizer VALEU A PENA!!! Arrependimento? Acho que a única coisa, não sei se posso chamar de arrependimento, mas, quando eu era muito mais novo, eu era realmente radical, eu fazia tudo com o coração e a emoção, tudo era ou vida ou morte, hoje aprendi a tentar ser mais tolerante com tudo, pensar mais antes de agir, algumas coisas levam e a mudança é inevitável, faz parte da evolução humana, mesmo ainda considerando políticos, cobradores de impostos, grafinos e pessoas direcionadas pelo dinheiro como a corja da humanidade, com raríssimas exceções, procuro tentar avaliar tudo sob todos os pontos de vista, embora as vezes seja difícil.

- Pra finalizar, uma pergunta que muitos pedem, há alguma chance do Psychic Possessor voltar a ativa? 
ZÉ FLÁVIO - Nada na vida é impossível, mas te diria que a possibilidade de voltar como banda, fazendo turnês, shows, agenda, é muito dificil! Agora, talvez uma reunião de amigos e colocar isso em um CD apenas para colocar o ódio para fora, eu diria difícil, mas não impossível.

- Obrigado Zé Flávio. Esse espaço é seu para suas considerações ou agradecimentos... 
ZÉ FLÁVIO - Obrigado a vocês pela iniciativa! SEJA, APROVEITE! RESPEITE SUA VERDADE! Você nasceu sozinho e morrerá sozinho e essa é a única coisa que vc pode ter certeza na vida, o resto?, é a própria vida e o legado que vc vai deixar para os que vêem depois, siga o caminho do bem e CONSTRUA se puder chutar uns traseiros de políticos não esqueça de me convidar, eles são o câncer do planeta. Justiça, Verdade, Paz e Longa vida ao HxCx!!!!


época Nós somos a América do Sul
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Digitalização: 1ª e 2ª foto por Mozart Rodrigues.

sábado, 27 de abril de 2013

GStruds - Only Tia Gertrudes is Real


Um universo misturado entre o horror e a comicidade onde um velho asqueroso faminto por criancinhas, uma barata zumbi - "carinhosamente" conhecida por Velma - sedenta pela destruição da humanidade, borboletas comedoras de tripas humanas e uma besta fera solta no Beco da Poeira (cenário do cotidiano da capital cearense) fazem parte dessa narrativa nada simplória. Duas décadas após a primeira demo-tape de 1993 - o mais insano registro dos caras! - a GStruds finalmente lança seu o debut Only Tia Gertrudes is Real em parceira com cinco distros/gravadoras dos porões do underground – a distro desta pessoa que resenha também faz parte. Um projeto antigo, desde o retorno do Luiz "Boa noite porra!" Lemos aos guturais da banda em 2003 e agora contando com o Paulo nas seis cordas, Carlos na base e Acácio na bateria. Nove esporros com uma gravação, parte lírica e gráfica do CD impecáveis, um trabalho árduo, demorado, mas que valeu a pena esperar. Um pesadelo com as cRássicas Churrasco dos vermes; Ataque das borboletas canibais; Velma, a barata zumbi e Satã, obreiro da universal, esta última sendo o melhor som da banda! Para além, temos um banquete purulento recheado com Maldição do ovo; Puta purulenta; Retroboy – uma singela “homenagem” a creche-tréxi-métau –; Terror no beco da poeira e Véio do saco. Guturais insanos a cargo do Luiz, uma guitarra costurada por partes arrastadas (típicas do Death Metal) e partes rápidas (Thrash Metal), base e batera arregaçadas. Uma mistura de Gore com comicidade, ou como os caras preferem definir, um Brutal Comic Metal. É necessário ressaltar o impecável trabalho de criação artística a cargo Tiago Amora, o cara conseguiu captar perfeitamente o cenário de horror criado nas letras. Essa recriação do cenário urbano a partir da ótica comic-horror sem dúvida trouxe a originalidade para esse banquete sonoro imperdível. Para quem achava que só a morte era uma realidade, afirmação dos mestres do Hellhammer, o machado da velha Tia Gertrudes está mais próximo e ávido pelo seu sangue!


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Primeiro lançamento da Esporro Sonoro Distro/Prod. em parceria com mais quatro distros. Nove sons de um corrosivo Brutal Comic Metal!


DISPONÍVEL!
R$20,00 (Frete Incluso)



NECROBUTCHER
(GRIND-NOISE/SC)

Lembro-me que certa vez, mostrei a primeira demo-tape para uns amigos, e os mesmos ficaram horrorizados com o som que é sinônimo de pioneirismo e radicalismo, o Necrobutcher com apenas duas demo-tapes lançadas, conseguiu na época um patamar bastante invejável, que é o do respeito e admiração de várias bandas. E o C. Kranium (urros) fala como a banda chegou a ser um "Pai" de todas as inimagináveis sujeiras - sem aspas, pois o som era sujo mesmo!

Alessandro E. N.
Cursed Excruciation zine #03, set. 2007

- Kranium, primeiramente gostaria de saber o que motivou você a criar na época uma das bandas mais sujas e radicais do país? Como foi o início, principais influências.
KRANIUM - Em primeiro lugar, saudações pra galera toda que lê este fanzine e principalmente pra você, Alessandro. Bem, na época éramos bastante jovens, mas nossa motivação maior foi colocar pra fora toda uma raiva acumulada em forma de música, uma revolta que perpassava todos os níveis da nossa vida, pois éramos daquele jeito 24 horas por dia, em casa, na escola, com os amigos, com a família, o tempo todo mesmo. Quanto à sujeira do som, isso é mais difícil de explicar, porque nem a gente sabe como fizemos um som tão pancada numa época que aquele tipo de barulho ainda engatinhava no Brasil. Quer dizer, a gente já tinha algumas das maiores bandas de Death Metal do mundo aqui, como o Sarcófago, por exemplo, ou o Necrófago, de Passos, bem como todas as bandas de BH, além do pessoal de SP e RJ e mais algumas espalhadas pelo interior, mas o nosso som era bem agressivo mesmo, talvez por termos tido influência desde o início de bandas HC, pois gostávamos muito de Terveet Kädet, Rattus, bem como de bandas brasileiras que eram bem toscas, como o Exterminator, de BH. Acho que isso levou a gente pra longe daquele coisa mais técnica que estava começando a predominar, depois que o Sepultura lançou o "Schizophrenia". Acho importante também ressaltar que já tinha no Brasil um pessoal fazendo Noisecore muito antes, no Brigada do Ódio, que talvez não seja sempre lembrado por estar mais ligado aos punks, e não à galera do metal, como o Necrobutcher. Sobre o início, nem é preciso dizer que foi bem difícil, pois se hoje ainda é complicado manter uma banda, imagine há quase 20 anos atrás, em 1988! Aparelhagem péssima, falta de compreensão dos vizinhos, falta de grana, dificuldade pra conseguir fazer uma gravação decente, pra mandar um fita pra alguém...tá louco!

- O Necrobutcher é bem difícil de ser caracterizado, uns dizem ser: Black, Death, Grind, Noise e por ai vai... O som realmente se caracteriza por um Grind/Noise, mas penso que pela postura está mais pra Black não acha? Como definiria o Necrobutcher? Ou acha esses tipos de rótulos desnecessários?
KRANIUM - Hoje em dia eu certamente considero todos esses rótulos desnecessários, pois música é algo que vai muito além dessas limitações, que em alguns casos podem empobrecer o som que uma mente criativa pode produzir sem esse tipo de interferência. Quando montamos a banda, as referências principais para o nosso som eram Sarcófago, Dissector (banda de Pelotas/RS, também importante na cena extrema da época), Genocídio, Bathory, além de Exterminator, Hellhouse e Occult, sendo essas duas últimas bandas desconhecidas e misteriosas pra gente até hoje. Do Hellhouse certamente veio minha principal influência pros vocais, já que o vocalista dessa banda parecia um cachorro hidrofóbico, heheheheh! O Occult fazia um barulho tremendo, composto quase unicamente por bateria e gritos de um doido sabe-se lá de onde. Logo depois, conhecemos o Napalm Death, por meio do "Scum", disco que foi muito influente na nossa concepção musical por volta de 1989, bem como bandas como Agathocles, Sore Throat, Genital Deformities, Fear of God, Crawl Noise, Carcass, 7MON e Extreme Noise Terror. Assim, o som foi cada vez mais assumindo uma tendência Grind/Noise que já nos parecia natural desde os primeiros ensaios, porque, como dizíamos no nosso primeiro release, queríamos que nosso som soasse como um liquidificador cheio de pedras e posers ligado, rsrsrsrs. Quanto à postura Black, nunca tivemos nenhuma ligação filosófica com o Black Metal, embora eu sempre tenha gostado muito da música. Acho que a correlação feita por muita gente tem a ver com a tendência da época, que era de tirar fotos em cemitérios e fazer pesadas críticas ao cristianismo, mas nunca fomos satanistas ou cultuamos qualquer forma de "cristianismo invertido", pra usar a expressão que um dos membros d o Averse Sefira usou numa entrevista. Pra resumir a questão, acho que o Necrobutcher fazia um som pancada mesmo, metal/HC extremo e ponto final.

- As duas DT's oficiais até hoje são xerocadas e espalhadas ai por mundo a fora, eu me considero privilegiado por ter as 2 Dt's. Há alguma chance de lançar esse material em CD ou quem sabe um Picture LP? Analisaria propostas?
KRANIUM - Houve um amigo nosso, o Clay, o qual você conhece também, que trouxe uma proposta de um selo americano especializado em regravar essas bandas old-school, mas houve algum problema e a coisa não rolou. Se houvesse a possibilidade, eu aceitaria na boa, embora eu tivesse que conversar com os outros ex-membros também. Quanto ao fato de elas terem se espalhado, ainda fico de cara com isso, pois nós nem tínhamos ideia de que toda essa história fosse parar tão longe. Até comunidade no Orkut um camarada criou e esses dias consegui baixar a demo na internet...coisa de louco, (risos).

- A música "No Thrash" da 1ª DT é uma dura crítica ao Thrash Metal que na época era dito como "moda" por alguns. O que achas das bandas daquela época que tocavam Death Metal e com o tempo acabaram rumando pro Thrash? Você ainda tem preconceito contra o estilo?
KRANIUM - Bem, você tem toda razão quando fala que era uma dura crítica ao Thrash metal NA ÉPOCA, pois assim como outras posições e ideias que se pode ver nas demos, fotos e entrevistas, era algo contextualizado, já que o Thrash realmente virou moda naquele momento e todo mundo queria fazer um "som rápido pesado e trabalhado", inspirados numa ideia clássica de "evolução musical" e impulsionados, de certa forma, por uma maior abertura do mercado a bandas como Metallica e Testament. Aí, todo mundo queria começar a música com um dedilhado e fazer e amansar a pancadaria, além de ter surgido toda uma geração que muito provavelmente não resistiu aos outros modismos posteriores. Hoje em dia, não tenho mais essa visão acerca do Thrash Metal, muito pelo contrário. Curto muito Slayer, Exodus, At the Gates, Executer, Whiplash, Dark Angel, Exodus, Andralls, Funerot, The Haunted, Pantera, e até o Sepultura também, bem como bandas de metal mais técnicas, como Cynic, Dead Soul Tribe, Arcturus, Ulver, Opeth, Electro Quarterstaff etc.

- Poderia falar um pouco sobre outros projetos que você tinha com o Elder e Argemiro. Tais como: Subersive Reek Mute Pertubation, Psychopathic Narrow e outros.
KRANIUM - Tivemos vários projetos paralelos, cada um com um som diferente: Psychopathic Narrow - projeto mais psicodélico, quase hippie (risos) que montamos pra fazer um som viajão, cuja maior inspiração foi sem dúvida o Godflesh, com letras de cunho existencialista e vocais limpos, por influência das leituras de Jean Paul Sartre e Nietzsche que fazíamos à época; The Saturday - banda mais na linha dos mestres do Grind/Thrash, altas influências de Master, Deathstryke, Terrorizer, Nausea e Majesty, principalmente. Gravamos uma única demo, num sábado, de onde surgiu o nome, rsrsrs; Paresthesic Neurodeformities - projeto totalmente Noisecore, de inspiração dadaísta, com o qual gravamos três demos, sendo as duas primeiras com diversas músicas (138, na 1ª, e 200 e poucos na 2º) e uma terceira com apenas um som longo e totalmente barulhento, entremeado de efeitos e recortes/colagens sonoras;  Scrappy Screws Orchestra - a "Orquestra de Parafusos Desconexos" foi um mergulho radical no experimentalismo, no qual extraíamos, junto com Kri-Kri, integrante de uma outra banda Noise local, o V.D.S., som de qualquer coisa, incluindo moedores de carne velhos, latas, fitas K7 rodadas ao contrário, teclados daqueles primitivos, enfim, de qualquer coisa que emitisse som, utilizando letras ou escritas por alguém, ou de poesias surrupiadas de livros didáticos. Isso tudo de improviso, coisa comum a quase todos os projetos citados acima; Wireless Helot - projeto mais organizado que a gente teve, com um som mais voltado para o Death Metal, cuja única demo "Helot of Yourself", com quatro sons, quase nem foi divulgada, embora a qualidade fosse até legal pra época; por fim, Subversive Reek Mute Perturbation, ou S.R.M.P., que, acho legal explicar, não foi um projeto, mas a continuação do Necrobutcher após o fim da banda, com os mesmos membros, mas com um som assumindo de vez a postura Hardcore, com uma roupagem crust/grind, e as letras críticas, focando principalmente os direitos dos animais, o vegetarianismo, problemas ambientais, entre outros. Essa banda foi pouco popular, mas com ela gravamos uma demo de  melhor qualidade, alguns ensaios e chegamos a lançar um split com o Filthy Charity, banda francesa de Grindcore, pela gravadora Psychomania, da Escócia, por indicação do baixista do 7MON, que era amigo do Hélder. Depois dessa gravação e algumas participações em coletâneas K7, à banda acabou mesmo.

- "Gravavam as demos com o gravador caseiro, desenhavam as capas". Eu acho foda ver uma coisa desse tipo... Hoje em dia as coisas parecem ser tão artificiais, já entregue de bandeja, não acha?
KRANIUM - É verdade, cara, era tudo muito artesanal mesmo, tudo feito pela gente. Até os braceletes e outros apetrechos que a gente usava eram feitos de napa retirada de um sofá velho preto com estofamento de papelão pra segurar os pregos, que eram grandes demais pra ficarem de pé, hehehe. O cara saía na rua e já ia fazendo barulho, porque os pregos ficavam batendo uns nos outros, hehehe. Até corpse painting feito a guache a gente fez, que depois deu um puta trabalho pra tirar do rosto, acho que deve ter ficado umas manchas por uns dias até, hehehehehe. Porém, eu não vejo com maus olhos o fato de hoje em dia haver maior facilidade pra montar uma banda, tocar com instrumentos melhores, divulgar o seu material sem custo praticamente nenhum e ainda poder ter contato com o mundo todo pela internet; pelo contrário, acho que é ótimo haver toda essa possibilidade de intercâmbio, dependendo de como se aproveita essa tecnologia e suas facilidades. Em primeiro lugar, houve o inevitável surgimento da internet e sua inevitável popularização, que tem ajudado, e muito, na divulgação das bandas mais novas, bem como na circulação mais rápida de ideias. Basta saber como aproveitar isso pra se construir uma cena sólida e realmente internacionalista, como sempre defenderam os anarquistas; além disso, se gastava muita grana há cerca de 17, 18 anos atrás pra se mandar qualquer coisa pra fora do País, ou mesmo aqui dentro. Além disso, mesmo as cenas de países distantes e com pouca tradição na música extrema, como Egito, Líbano, Paquistão, Turquia ou Marrocos, estão aparecendo hoje graças à internet, embora musicalmente eles mantenham uma sonoridade bem primitiva, bem parecida com a década de 1980. Em segundo, acho que realmente não é possível esquecer que naquela época tudo era mais complicado e que só se mantinha ativo na cena quem tivesse muita vontade de tocar ou de fazer seu zine, por exemplo, mas não considero que todos que começaram hoje, nessa era de facilidades, sejam modistas, nem que nós tenhamos sido mais "reais" do que a geração do presente. Sei que muitos deles vão abandonar a sua atual "ideologia" logo que arrumarem uma namorada ou um emprego, mas isso não se pode prever. Eu também acredito que muitos deles continuarão na cena independentemente disso, pois a música alternativa, pra usar um termo bem genérico, sempre teve seus seguidores, tenha o estilo sido moda ou não em algum momento. Então, acho que o lance é continuar apoiando a galera mais jovem e acompanhando a cena, com suas todas as suas inevitáveis mudanças, até porque saber mudar e crescer com isso é algo importante e também, desculpem-me pela insistência, inevitável.

- O Radicalismo prejudicou o Necrobutcher ou ajudou a consolidar essa "aura maldita" influenciando várias bandas? Você ainda continua com essa ideologia radical de outrora?
KRANIUM - Acredito que foi uma faca de dois gumes: por um lado, criou uma imagem forte e chamou a atenção de muita gente, porque reforçávamos essa ideologia por meio de uma argumentação que considerávamos coerente e não tínhamos nenhuma pretensão de agradar a esta ou àquela banda ou revista. Então, havia uma faixa de público, composta por gente como nós, que precisava se fortalecer, bem como fortalecer a cena mais extrema de forma a não se enquadrar naquela imagem associada ao Sepultura ou às bandas que estavam se profissionalizando, por que considerávamos que isso seria perder a essência underground. Nesse sentido, manter essa postura rígida e coerente foi bom, porque acho que ajudamos, sim, a dar impulso a novas bandas formadas em sua maioria por caras que também estavam a fim de criar uma nova identidade e se posicionar criticamente em relação à sociedade de consumo com base numa espécie de pureza estilística, que hoje talvez não seja mais viável. Por outro lado, acho que essa ideologia foi um pouco prejudicial, em certa medida, porque sempre tem as pessoas que interpretam de forma errada a coisa e acabou se criando uma "moda radical" (rsrsrsrsrs), o que é um contrassenso total, né? Sem contar que foi a busca por essa coerência que nos levou a um caminho sem volta, praticamente nos colocando na obrigação de acabar com a banda caso começássemos a ganhar popularidade. Certamente, olhando pra trás, acho que havia certos excessos que hoje não têm mais nada a ver, como, por exemplo, achar que pipoca ou sorvete era coisa de poser, hehehehehehehehe. Quanto a ainda defender aquela forma de radicalismo, acho que cada pessoa tem o direito de ser o que ela quiser... Ser radical pressupõe, de alguma forma, se considerar dono de uma verdade, mas hoje em dia não acho que essa verdade exista e nem que eu possa impor algum tipo de comportamento a alguém. O radicalismo acabou gerando uma postura autoritária demais por parte de muita gente, uma intransigência que não combina com uma manifestação artística e política como a música ou a antimúsica. Assim, vejo que todas as formas de expressão são legítimas e interessantes, embora eu não necessariamente goste de tudo que rola por aí. Penso que o radicalismo foi importante naquele contexto do final dos anos de 1980, já que era preciso que aquela proposta de selvageria (anti)musical e atitude se firmasse numa cena metálica forte, porém, um tanto despolitizada e com uma tendência a se deixar levar por modismos e pela excesso de virtuose em detrimento de uma postura mais crítica em relação à sociedade. Por outro lado, também não tenho nada contra quem hoje se defina como radical, é uma opção de cada um.

- O Necrobutcher sempre se disse influenciado por bandas Punks. O que acha dessa já "cansada" divisão entre Punks e Metal que ainda existe, acha a união uma utopia? E sobre o Nazismo infiltrado no Metal, qual sua opinião sobre isso?
KRANIUM - Sim, sempre ouvimos muito hardcore/punk, incluindo Terveet Kädet, Rattus, Rapt, Mellakka, Kaaos, Discharge, Cólera, Olho Seco, RDP, do tempo do "Crucificados", e adotamos também uma postura mais politizada logo que começamos a entender melhor a filosofia punk, tanto nas letras quanto no dia-a-dia, em nossas atividades paralelas à banda, pois andávamos quase sempre com os poucos punks daqui, inclusive agitando fanzines, manifestações contra o 7 de Setembro e lutando em prol dos direitos dos animais. Aqui na nossa região nunca houve muitos problemas quanto a essa desunião, ou pelo menos não que tenha acompanhado, mas acho uma enorme besteira sem sentido ficar alfinetando quem quer que seja somente porque a pessoa tem essa ou aquela postura ou gosto musical. Sou, sim, favorável a uma fusão de tudo que é legal, de todos que ainda veem na arte uma forma de emancipação do sujeito e defendem a criatividade como saída contra a burrice que põe em risco o mundo em que vivemos. Não acho que seja utopia, não, mas isso só muda quando as pessoas mudam e, para que elas mudem, é preciso se informar, se educar e abrir a cabeça pro mundo, não se fechar em movimentos obscuros e autoritários. Quanto ao nazismo, talvez nem precisasse gastar o tempo do leitor com isso, mas não acho legal, embora eu não vá sair por aí esmurrando nenhum defensor dos ideais de Hitler; porém, acho um perigo que algumas cabeças mal-intencionadas e perturbadas sirvam de exemplo pra muita gente, principalmente pra uma gurizada jovem demais que, influenciável, sai por aí espalhando violência estúpida contra minorias ou achando que os problemas do mundo estão nas diferenças entre as pessoas. Isso, sim, é preocupante. No início da década passada, toda aquela história de assassinatos e intolerância nazista, principalmente envolvendo o pessoal do Black Metal, já causou muito estrago e foi motivo de muita piada também.

- Tem uma letra "Tolerantionism (Symbolical Retreat)" do projeto Subersive Reek Mute Pertubation que é uma crítica ao Black Metal. Do que se trata essa crítica?
KRANIUM - Bem, continuo aqui a resposta à pergunta anterior. Essa letra partiu exatamente da observação e discordância dessa posição intolerante que estava assumindo proporções absurdas, como um sujeito que curte Black Metal querer brigar com um fã de Death Metal! Ora, pra mim, Black e Death Metal são parte da mesma coisa, têm histórias parecidas e vêm da mesma fonte. Esse pessoal que se leva a sério demais acaba distorcendo as coisas e mergulhando num fosso cada vez mais profundo - o da ignorância - no qual pretendem se isolar, contribuindo para o fim daquilo que eles mesmos defendem, ou seja, essa visão tacanha das coisas só prejudica o Metal.

- Qual foi o motivo para o fim do Necrobutcher? Há alguma chance de voltar ou foi só passado mesmo?
KRANIUM - O fim do Necrobutcher se deu pelas razões que apontei acima: devido ao excesso de cobrança da nossa parte por coerência, chegou um ponto em que muita gente começou a nos escrever, em que começamos a ficar "populares" demais, e então, em nome dessa coerência, era hora de terminar o Necrobutcher para que ele não virasse também uma moda. Não sei dizer se a melhor decisão ou se eu faria isso de novo hoje em dia, mas a foi a decisão que tomamos naquele momento. Foi aí que surgiu o SRMP, com a finalidade de ser ainda mais underground. Além disso, algum tempo depois, meu irmão, o guitarrista Argemiro (Skull Detonator) também foi embora da cidade pra estudar no interior (em Lages) e aí a banda não voltou mais a tocar. Hoje em dia, não vejo chance de haver uma volta do Necrobutcher. Se fosse pra tocar um som pancada de novo, seria numa outra banda, com outro nome e uma nova história.

- Você ainda anda em shows de Metal? Quais bandas atuais de Santa Catarina você destacaria? E como vê o Metal hoje?
KRANIUM - Sim, quando posso vou aos poucos shows que acontecem aqui. Estou pouco por fora da cena local, mas posso citar o Osculum Obscenum, que faz uma puta sonzeira, e também o pessoal do Brutal Butchery, aos quais assisti uma vez e achei do cacete, um Death Metalzão bem trabalhado e muito agressivo, feito por uma rapaziada jovem. Também não posso deixar de citar o Flesh Grinder, que estão há muito tempo detonando na cena também, e o Luciferiano, ambas de Joinville. Tínhamos aqui o Krophus, que foi umas das últimas bandas daqui a se tornar mais conhecida fora do Estado, mas que infelizmente acabou, embora fosse muito boa também, e mais Rhesthus, Syndrome e algumas outras que posso ter esquecido...não dá pra lembrar de todo mundo também, né?  Sobre o Metal hoje em dia, posso citar as bandas que acho boas e que tenho acompanhado, entre bandas nacionais e estrangeiras, como Dark at Dawn (Ger), Sad Theory, Sanctifier, Volbeat (Din), Poisonblack (Fin), Charon (Fin), El Caco (Nor), Farmer Boys (Ger), Carnival in Coal (Fra), Driller Killer (Sue) e diversas outras dentro de todas as tendências do Metal, Hardcore e outros estilos, desde que essas bandas façam um som com atitude e criatividade. Ainda assim, o que mais escuto, certamente, são as bandas das antigas.

- Kranium, agradeço à atenção, e novamente digo que é um privilégio ter o Necrobutcher em páginas do C.E. zine. Alguma mensagem final pros maníacos no mundo?
KRANIUM - Alessandro, eu é que agradeço pela oportunidade, que me fez reviver muita coisa legal, revirar muitas histórias de um tempo muito rico do Metal nacional. Como eu já te disse em outra oportunidade, nunca imaginei que nosso som poderia chegar tão longe, nem que nossas ideias fossem atravessar o tempo. Além disso, também é legal poder rever certas coisas, resignificar certas atitudes e esclarecer um pouco do que foi o Necrobutcher pro pessoal mais novo, bem como fazer muita gente lembrar dessa época. Não tenho nenhuma mensagem específica, mas se alguém quiser escrever, principalmente o pessoal das antigas com quem eu nunca mais tive contato, pode divulgar meu e-mail (cristianoalvinegro@hotmail.com) que eu procurarei conversar com quem tiver interesse em bater um papo. No mais, o lance é não se deixar levar pela moda, porque o Metal sobrevive e sempre vai ter um bando de malucos dispostos a fazer barulho por aí. Um grande abraço e até mais!
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DT Schizophrenic Cristianity (1988)

DT Corrosive Noise Torment (1989)

LP/CD Schizophrenic Noise Torment (2013)

Formação: C. Kranium (v), A. Skull Detonator (g) e H. Satan Leprofetus (bt). Barulhos: Schizophrenic Cristianity (1988 - DT), Corrosive Noise Torment (1989 - DT) e Schizophrenic Noise Torment (2013 – LP/CD).

Agradecimentos: Cristiano (Necrobutcher), Clay S. da Battle Distro pelo esforço em efetivar esse contato para entrevista, Mozart Rodrigues e Wilson Jr. pelas fotos e ao Leonardo Cunha e Marcel Marçal pela força firmada com o Cursed.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Leprous - Welcome to Future

Passadas duas décadas após o lançamento da "Welcome to Future", da banda Leprous, que marca o primeiro registro em demo tape de Metal no Ceará; temas como guerras, miséria, individualismo continuam tão atuais quando a mesma.


Novo conceito gráfico com encarte de 8 págs (P&B), CD-R adesivado com 9 músicas de culto ao Death Metal com influências Hardcore. Indicado apenas aos reais apreciadores de som sujo e extremo! Limitado em 500 cópias a mão!



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Lançamento:
Cursed Excruciation zine/prods.
Turbulation prods.

R$12,00 (Frete Incluso!)